A resposta para esta pergunta precisa ser frequentemente revista. Principalmente quando se trata de um segmento extremamente competitivo, como o varejo.
Foi por causa da crise de 1929 que o varejo, como se conhece hoje, nasceu no Brasil.
Antes tudo era do balcão para o consumidor. A gestão era de dentro para fora, do fornecedor para o consumidor.
Com a crise de 1929, que levou várias empresas a falência, além do aumento do desemprego e o consequente baixo poder aquisitivo das famílias, o modelo de negócio de armazém com vendedores no balcão (que também perderam seus empregos), por exemplo, deu lugar ao autosserviço presente em redes de supermercados.
Em contrapartida, como a indústria começava a se consolidar no Brasil, logo as oportunidades de emprego aumentaram e as pessoas passaram a morar no meio urbano.
Enquanto os homens iam para a linha de frente de batalha no período das duas grandes Guerras Mundiais, a introdução da participação feminina no mercado de trabalho passava a ser uma solução para manter a economia funcionando.
Esse novo modelo de sociedade fez com que o varejo passasse a vender produtos mais práticos para atender às necessidades das mulheres que agora dividem o tempo entre a gestão da casa e o mercado de trabalho.
Já em 2008, diferente do que acontecia no restante do mundo, o segmento varejista brasileiro cresceu 15,7% em relação a 2007.
Esse resultado se deveu a um pacote de estímulo para a economia continuar aquecida, que envolvia, entre outras coisas, redução de impostos para estimular vendas e, assim, manter empregos.
O Brasil lidou bem com a crise de 2008, mas a economia global demorou um pouco mais para se reestablecer. O país entrou em recessão em 2016 e a retração no varejo foi de 6,2% – o pior resultado desde que começou a ser medido, em 2001.
Foi nesta época de estagnação que o modelo de negócio «atacarejo» ganhou força com uma operação que passou a atender, pelo menos, três perfis de clientes: pessoas que moravam sozinhas e precisavam comprar produtos de sua preferência por um preço menor, famílias com poder de compra limitado e micro e pequenos empreendedores donos de mercadinhos de bairro.
Além de satisfazer a demanda decorrente das mudanças no comportamento de consumo, as marcas de varejo que conseguem enfrentar e sobreviver a crises têm em comum uma gestão financeira eficiente orientada para a inovação com base tecnológica.
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Varejo é muita transpiração. Por isso, ter uma gestão financeira eficiente em tempos de crise precisa ultrapassar os limites de uma sala fechada do gerente da loja.
A linha tênue entre falar e não fazer vai refletir nos resultados das empresas durante a crise do coronavírus.
Uma marca que vem despontando como referência nessa época é o Magazine Luiza.
Com o objetivo de transformar a empresa em uma plataforma digital, o e-commerce da marca tem recebido bastante investimento desde 2015, quando o app Magalu foi lançado.
Desde o mês de março de 2020, produtos relacionados ao coronavírus podem ser comprados por meio do app com frete grátis. Mais do que demonstrar empatia num momento tão difícil, o Magazine Luiza está executando sua estratégia inicial para continuar gerando demanda no longo prazo.
A covid-19 afeta a economia e dificulta a continuidade e sobrevivência de toda a cadeia produtiva do varejo. Por isso, o momento pede cooperação.
Baseada em seus valores e propósito, a Riachuelo está dando fôlego aos pequenos negócios. Além dos 10 mil aventais hospitalares doados para hospitais públicos, que foram produzidos em uma de suas fábricas antes de fechá-la, a Riachuelo produzirá outros itens – máscaras, jalecos e toucas – com o mesmo objetivo.
A iniciativa agora vai acontecer por meio de oficinas parceiras em regiões do Brasil que não foram afetadas pelo coronavírus.
Além de posicionar bem a marca neste momento, a empresa está garantindo a continuidade do negócio de pequenas empresas e auxiliando no sustento da economia.
Desde que o ser humano decidiu comercializar produtos, costuma-se dizer que é no ponto de venda onde a venda acontece. Considerando que mais de 90% das vendas são feitas no varejo físico, a loja é a terceira casa do cliente, depois do lar e do trabalho.
A loja física deixou de ser apenas um ponto de venda e se tornou um ponto de relacionamento.
Mas o consumidor mudou. Assim, as relações comerciais também mudaram.
A venda acontece onde o consumidor está. Principalmente em épocas de crise, como a da covid-19 que impõe o isolamento e distanciamento social como soluções para conter o avanço do contágio.
Um exemplo disso é o fato de muitos restaurantes só poderem funcionar via delivery ou drive thru.
Pensando em diminuir o impacto que a crise tem causado aos seus parceiros, o iFood criou um fundo de assistência para restaurantes, além de permitir antecipação de recebíveis em um prazo menor.
Buscando se adaptar a necessidade de distanciamento social para aumentar a segurança de entregadores e clientes, a marca introduziu a opção de «pedidos sem contato físico».
Nem a crise de 1929 ou a de 2008 impactaram tanto a vida em sociedade e, por consequência, a economia global como a que foi causada pela covid-19.
Frente aos efeitos que a crise do coronavírus vem provocando, o varejo vai estimular a transformação digital e as marcas que conseguirem sobreviver à crise vão liderar a nova dinâmica do futuro que acaba de acontecer.
Parafraseando Darwin, os negócios de varejo que vão sobreviver a este e a todo tipo de crise não serão os mais fortes e nem os mais inteligentes, mas aqueles que melhor se adaptarem às mudanças.