QUAL O PROPÓSITO DE UM BANCO?
As palavras propósito e banco dificilmente se encaixam na mesma frase. Mas por quê? Ainda que o sistema financeiro seja importante para a economia, basta observarmos a taxa média do spread bancário (diferença entre a taxa de juros que o varejo paga no empréstimo e a taxa que o banco paga para levantar recursos para oferecer o crédito), a mais alta do mundo e que em 2016 atingiu 22% no Brasil, enquanto em países como Estados Unidos e Chile ela foi de 5,2% e 4,3% respectivamente, para entendermos como é difícil encontrar um propósito em um segmento que ano após ano bate recordes de lucros, mesmo com a economia em baixa.
A IMPORTÂNCIA DOS RECEBÍVEIS DE CARTÕES PARA O VAREJO
Dependendo do segmento e da região do país, os recebíveis de cartões representam até 60% das vendas do varejo, e se tornaram nos últimos anos o bem mais precioso do varejista quando o assunto é gestão financeira. Seja pelo risco praticamente nulo ou pela liquidez que apresentam, é comum encontrarmos empresas onde os recebíveis de cartões são usados como garantia em operações de crédito, alavancando o crescimento e melhorando a gestão do fluxo de caixa. É obrigação do bom gestor financeiro saber da importância destes recebíveis e utiliza-los da melhor forma possível.
VERTICALIZAÇÃO DO MERCADO BRASILEIRO DE CARTÕES
O mercado brasileiro de cartões tem sua história associada a um duopólio que só foi quebrado em 2010. Até então, apenas Visanet e Redecard operavam neste mercado com acordos de exclusividade com as bandeiras Visa e Mastercard respectivamente, sem precisar se esforçar para conquistar clientes, já que se um varejista quisesse aceitar cartões em suas lojas, tinha que obrigatoriamente contratar os serviços destas empresas.
Ainda hoje estas duas empresas ainda detêm mais de 80% de marketshare, muito mais em função de serem controladas pelos maiores bancos do país do que por condições ideais de concorrência.
Com a abertura do mercado em 2010, os grandes bancos se reposicionaram para garantir que o fluxo de dinheiro dos recebíveis de cartões continuasse em suas mãos. Ao controlar as adquirentes de cartões, estas estão cada vez mais se tornando uma extensão do banco e aquela iniciativa que deveria abrir o mercado, privilegiar a concorrência e beneficiar o varejista tem se mostrado muito limitada e pior, o varejista está cada vez mais preso ao sistema, na medida em que a oferta de crédito é cada vez condicionada ao uso da adquirente do próprio banco o que faz com que o varejista tenha que entregar seu bem mais precioso, que é sua carteira de recebíveis de cartões, para um único banco.
O QUE O VAREJO DEVE FAZER PARA SE PROTEGER
Quando o assunto é investimento, sempre ouvimos que nunca devemos colocar todos os ovos na mesma cesta, e que uma boa carteira de investimentos tem que ser diversificada. Pois é exatamente desta maneira que o varejista tem que olhar para sua carteira de recebíveis de cartões ao estruturar suas operações com cartões de créditos.
Concentrar 100% dos seus recebíveis uma única adquirente controlada por um grande banco pode parecer uma boa opção no início, já que é comum encontrar ofertas de produtos combinados com “as melhores taxas e produtos”, mas não é. Por quê? Na medida em que o varejista entrega sua operação na mão de um único grupo, ele perde seu poder de negociação, coloca toda sua operação nas mãos de um único fornecedor e se fecha para qualquer outra oportunidade futura.
O bom gestor deve entender quais são os seus desafios na gestão financeira: se crescimento, fluxo de caixa ou negociação de dívidas e dividir sua operação de cartões sempre em mais de uma adquirente e dentre as empresas escolhidas, optar por pelo menos uma que seja independente dos bancos. Desta forma, ele pode se beneficiar tanto dos arranjos adquirente + banco quanto das demais oportunidades do sistema financeiro na medida em que mantém pelo menos uma parte de seus recebíveis de cartões fora do alcance dos bancos.
Ao estruturar corretamente suas operações com cartões, escolhendo as adquirentes de forma inteligente, o varejista se fortalece e fica em melhores condições de negociar com os bancos, conseguindo assim diminuir o spread e obtendo de fato as melhores taxas possíveis.